Com o congresso à porta, Jerónimo de Sousa volta a dizer, desta vez em entrevista ao Público, que sim mas que também a quase tudo. Sobre a China chuta para canto, sobre a construção da alternativa chuta para canto
e sobre a europa diz que esta é “irreformável” mas recusa-se a tomar posição contra o euro. Pérola das pérolas: sobre os recentes incidentes a 14 de Novembro, em frente à Assembleia da República, limita-se e reproduzir o discurso criminalizante do Governo.
É absolutamente confrangedora a fragilidade teórica do PCP para olhar os tempos que correm. Na entrevista hoje publicada, não é possível descortinar qualquer análise comunista, dialéctica à situação actual.
Logo no início, é pedido ao secretário-geral que explique a táctica do seu partido para “evitar o desmantelamento do estado social”. Resposta? Implementação de “outra política” em diversas áreas, porque o governo “está direcionado para servir os grandes interesses”. As jornalistas querem mais, querem perceber como isso se faz, mas Jerónimo continua nas suas diatribes contra o Governo de direita, até que perguntam: não deveria o PCP juntar-se aos outros partidos de esquerda? Resposta: “O PCP foi o primeiro partido a apresentar a renegociação da dívida”. E pronto, está o assunto arrumado…
Sobre outra eventual táctica de alianças para o derrube dos governos da austeridade, lá continuam as jornalistas a fazer o papel do entrevistado e a dar sugestões: e o BE (nas teses está que é social-democratizante e demagógico mas tem propostas no parlamento como as vossas)? Jerónimo responde em grande, “fazemos uma caracterização política (!!!), nem carregamos muito no posicionamento anticomunista do BE”! Toma lá que já apanhaste, anticomunista! Claro que o senhor não explica o que é isso do anticomunismo naquele partido (tenho uma ideia que é dizer mal do PCP, e o PCP quando diz mal do BE é o quê?).
Por fim, pedem ao comunista que diga, então, com quem fazer pontes e Jerónimo segue em frente (porque para a frente é que é caminho não é?) e sublinha “O PCP tem uma proposta política alternativa” Ah, ok, assim tudo bem, mas com quem, insistem as jornalistas, “com a participação de democratas e de patriotas que estejam abertos à concretização desta política”!
Pronto, assim com a formulação frentista do PCP dos anos 60 já ficamos todos mais descansados. Como diria Lenine, não há problema porque está demonstrado: já temos táctica, estratégia e objectivo!
Não vos maço muito mais, o resto da entrevista é só tiros no pé, atrás de tiros no pé. Negligencia os novos movimentos sociais que arruma (apenas) como “inorgânicos” e sobre a raiva que anda nas ruas e seus calhaus seguidos de brutais repressões, limita-se a reproduzir o discurso do governo: “o que se pode considerar ali é que houve uma provocação organizada (por quem, pergunta a jornalista) eu não conheço, mas o ministro da Ad. Interna disse que foi obra de profissionais da provocação, lá terá as suas informações”.
Mais grave que a ligeireza na análise de alianças, uma questão fundamental para qualquer comunista, é a total ausência de estratégia de “construção” fora delas.
As jornalistas bem se esforçaram mas nada. Anda sempre o PCP a dizer que não tem tempo de antena, ora, aqui teve e não foi pouco e usou-o para quê? Um conselho para não perderem votos: não deem entrevistas, os comícios são do melhor, porque aí não há perguntas, só rapazolas a acenar bandeiras lá atrás a reafirmar o ideal comunista, pois claro.